É noite, posso olhar o luar e contemplar mais uma noite fria. Posso tocar o chão e perceber como a terra é insensível as dores do corpo, mas uma coisa eu sei, é que ao longínquo horizonte apenas penso nos tempo idos de quando eu ainda sabia o que era amor. Agora vago em vão sobre as campinas gélidas que transbordam gotas de orvalhos, e enchem o ar com um perfume de chuva.
Sim, meu coração está encharcado de inocentes desejos que se perdem no mais alto precipício do passado. Ando, continuo o caminho tortuoso de labirintos que nunca me levam onde eu gostaria de chegar, mas sinto ao longe o perfume de rosas e o calor da aurora que vem se aproximar.
Mais um líquido escorre em minha garganta fazendo com que todo o torpor da dor esvazie da memória, mas me seguro firme no meios de estatuas de falsos deuses, que contemplo a muito tempo. O anjo alado parece distante, com suas negras asas e a face dá mais bela humana, me contempla dizendo que não é meu tempo de partir.
Procuro então o estranho riso de um bufão que enreda o meu coração, tornando aquele momento de prazer e ternura, de falsas indagações sobre o que a vida pode trazer. Me apaga as chamas da tristeza, um pequeno fio de alegria começa a tecer em meu rosto sombrio.
Mas não tenho tempo, apenas sei que já perdi muitos e muitos sonos pensando na imagem tenra e quente da face de minha amada. Fico em transe contemplando neste momento seu eterno sorriso, mas a memória logo me escapa e me traz a solidão da frieza de um dia de inverno.
As pedras parecem segurar os icebergs de minhas emoções, mas o barulho que elas contemplam tornam-se ensurdecedor como a tempestade que se aproxima, que arrasta a livre sensação de paz que por um momento estava.
Tento me esconder mas não tem nada para me proteger, apenas vejo a escuridão se aproximar distante e contemplar-me com seu pleno silêncio, fazendo com que minha espinha estremeça com um arrepio de tempos vindos de pura escuridão.
Procuro gritar, mas nem lagrimas escorrem mais destes olhos que já contemplaram as mais diversas belezas, que já puderam ver cores onde o cinza dominava. Arco íris criam-se agora apenas na ilusão de minha mente que vaga distante da realidade, ao mesmo tempo em que sinto uma dor de partir de onde queria chegar.
Assim, a noite adentra as mais remotas sensações de sombras que parecem me perseguir, os calores cálidos da alegria que a momentos tive partem distantes e só restam agora um pouco mais de tristeza. Tristeza esta que não vem da não alegria mas de sua ausência completa. Ausência que cria nas sombras faces de amor, com rabiscos de dor, enquanto aqui estou eu mais uma vez, diante do luar, contemplando um pouco mais da minha vida enquanto a noite se vai, para um lugar que não posso acompanhar.
Este conto foi escrito em maio de 2007. (Atualmente as palavras desapareceram de meu processo criativo)
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Há 11 anos
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